top of page
Search

Escutando o som do silêncio: análise do filme "Sound of Metal"

  • Writer: Carla Albano
    Carla Albano
  • Mar 15, 2021
  • 3 min read

Ruben é um adicto em heroína que está limpo há quatro anos, aparentemente desde que o amor de Lou entrou na sua vida. Os dois viajam pelo país fazendo shows. Ela no vocal, ele na bateria. Moram em um trailer e tentam encontrar a paz na simplicidade. De repente, Ruben perde a audição e o casal não pode mais continuar vivendo do rendimento dos shows. É evidente que Ruben entra em negação assim que recebe o diagnóstico da deficiência auditiva, acreditando que, resolvido o problema, sua vida voltará a ser como antes. Lou decide voltar para casa do pai enquanto Ruben vai buscar tratamento em uma comunidade de surdos.

Ninguém pode passar por uma situação dessas sem mudar. Nem Ruben, nem Lou.

O que será que esse adoecimento quer ensinar a eles?

Inicialmente, acompanhamos a trajetória de Ruben. Na comunidade, ele encontra uma figura paterna que o acolhe e o incumbe da missão de aprender a ser surdo. Com o carinho dos colegas surdos e das crianças de uma escola, Ruben encontra outras linguagens, sente-se querido, importante. Aceitar que não se muda o passado e que a vida segue daqui para a frente é o caminho. É isso que nos ensina Jung: em vez de perguntar “por quê”, temos que perguntar “para quê”? O que eu devo fazer com essa mudança inesperada que o mundo me traz? Ruben segue tentando ignorar que sua vida jamais será como antes. Luta contra sua condição de surdo e desesperadamente olha para o passado. Mesmo sem a audição, sua vida nunca teve tanto sentido, mas ele simplesmente não enxerga porque está preocupado em olhar para trás.

Joe, seu mestre na comunidade, lança um desafio para Ruben conseguir ficar com ele mesmo, sem se distrair fazendo coisas. Pede para que ele escreva o que sente em um caderno, como numa tentativa de fazer Ruben olhar para si mesmo e buscar sua essência. Com muito carinho, Joe se propõe a acordar cedo para fazer o café da manhã para ele, da mesma forma, aliás, que ele fazia para a Lou. Também é o café da manhã que o pai de Lou oferece a Ruben, como se acordar todos os dias fosse um grande desafio a ser celebrado. A relação entre cuidar e ser cuidado está posta. Lou cuidou dele, ele cuidou de Lou. A mãe de Ruben era enfermeira e cuidava dos feridos do exército. Agora Lou foi buscar os cuidados do pai e Ruben fica aos cuidados da comunidade surda. Ruben cuida das crianças da escola e elas cuidam dele.

Saber que nossa vida importa para alguém pode fazer toda diferença entre viver e morrer. O diálogo com a morte permeia tudo: é sempre uma das opções para as personagens. Mesmo quando se escolhe viver, algo precisa morrer simbolicamente. Ruben e Lou renascem, se reinventam, com o corpo marcado pelo registro dos tempos sombrios. É o que se nota nas muitas tatuagens de Ruben e nas cicatrizes no braço de Lou.

Ruben percebe que o som que está ao redor dele não é mais o mesmo. É só um ato mecânico, sem poesia. O metal da banda que compunha com Lou não é mais harmônico, traz ruídos, incomoda. Ruben nos ensina que a escuta literal do implante coclear não basta porque prescinde da sensibilidade dos ouvidos humanos. Depois de ter aprendido a escutar os surdos e a si mesmo, parece ter descoberto uma nova forma de se comunicar com o mundo: o silêncio.

תגובות


Posts Em Destaque
Check back soon
Once posts are published, you’ll see them here.
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
  • b-facebook
  • Twitter Round
  • b-googleplus
bottom of page